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Aumento de compras de carne bovina pela China levou à tendência de incremento da terminação de gado em boitéis

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Em meados de 2018, quando a Peste Suína Africana (PSA) atingiu em cheio os plantéis chineses, levando à morte ou abate sanitário de praticamente metade do rebanho de suínos do país, o gigante asiático foi às compras de carne suína e outras proteínas para alimentar sua população. O Brasil foi um dos países escolhidos pela China para o fornecimento destas proteínas por razões de escala e sanidade.

Vale lembrar que a China é o maior produtor e também consumidor de carne suína do mundo, e que passou a incrementar o consumo de proteínas alternativas como forma de suprir a lacuna deixada pela quebra repentina na produção de suínos.

Segundo Juliane da Silva Gomes, gerente executiva da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), o aumento na utilização de boitéis começou a ganhar fôlego com o incremento nas exportações de carne bovina, especialmente para a China. “Como esse aumento é gradativo e constante das exportações, é melhor investir em uma estrutura que consiga fazer o giro mais rápido. Se em determinada região tem gente que já está habilitado a exportar para aquele país, compensa mandar os animais para terminar lá para cumprir os 90 dias da dieta, específica”, aponta Juliane.

Outra vantagem do uso de boitéis segundo a gerente executiva da Assocon é que é possível ter mais rapidez no giro, podendo liberar animais da propriedade para serem terminados nos boitéis e podendo colocar bois magros de volta na propriedade mais cedo.

Falando nas especificidades do chamado “Boi China”, se trata de um gado criado em território brasileiro com no máximo quatro dentes incisivos e menos de trinta meses de idade, ou se já, dois anos e meio, com toda a documentação de GTAs, sem indícios de febre aftosa, com rastreabilidade e que não tenham sidos tratados com produtos veterinários e nem consumido alimentos que são proibidos na China.

Fernando Costa, sócio-proprietário da Costa Agroconfinamento, aponta que “o que acontece dentro do confinamento, em geral, é que os maiores confinadores estão aumentando e os menores estão saindo. Os menores estão usando como fonte de terminação os boitéis, que tem aumentado o volume abatido no ano, e os pequenos têm diminuído”.

Conforme explica Costa, a China fez com que no auge das compras de carne bovina brasileira, com o preço elevado, confinadores se mobilizassem para que houvesse margem melhor. “Hoje o pessoal que confina está num nível até um pouco crítico. Os preços do boi, tanto para exportação quanto interno estão muito amarrados. Isso faz com que você tenha que ter uma sensibilidade maior e trabalhar com mais eficiência. O investimento é em instalação, em quantidade de máquinas para poder atender a esta situação, armazenagem de grãos, caixa para poder comprar os insumos”.

A respeito da concentração de confinadores maiores e sobre a terminação em boitéis como uma alternativa, Sergio Przepiorka, pecuarista e proprietário do Boitel Chaparral, comenta que houve, de fato, uma concentração dos maiores, não apenas no confinamento, mas também no pasto.

O analista de mercado da Scot Consultoria, Felipe Fabbri, destaca que, com o advento da China importando mais carne brasileira, veio a necessidade de um giro mais rápido de bovinos. A exigência do mercado chinês para bovinos com até 30 meses acabou colocando em pauta na pecuária brasileira uma necessidade natural de intensificação no sistema de produção, fosse em pastagem ou em confinamento.

“Grosso modo, o sistema de pastagem é o principal sistema de produção no Brasil e o confinamento neste meio período veio por beneficiar-se do conjunto da obra. Então o produtor que precisava dar um giro mais rápido, que precisava fugir daquele efeito sanfona ou aliviar a pastagem na entrada do período da seca, viu no confinamento uma estratégia para terminar mais rápido seus animais com um preço mais interessante por essas boiadas”, afirma Fabbri.

Ele ressalta que no transcorrer do tempo, percebeu-se que essa demanda passou a ser relativamente momentânea em alguns casos, como o período de entressafra, em que a boiada precisava entrar ali com uma terminação mais intensiva porque o capim não dava mais conta ou pecuarista não queria suplementar, ou não via a necessidade de suplementar, então passou-se a ter o confinamento como opção mais longeva e tradicional, até mesmo para dentro das próprias indústrias frigoríficas.

“A gente passou a ver um aumento com relação aos frigoríficos adotando o sistema de confinamento próprio, ou de confinamento de parceiros com giros ao longo do ano todo para manter uma linha de escala saudável em momentos de menor oferta de bovinos de pastagem. A gente viu um aumento destes modelos de confinamento acontecendo aqui no Brasil em muitas regiões, e isso também é puxado pela demanda chinesa. Então foi um incremento do pecuarista buscar esse modelo de produção para atender as necessidades da indústria e com um ágio maior lá atrás, sendo mais bem bonificado, e da própria indústria ao longo dos últimos anos para sair um pouco da “dependência” entre oferta de confinamento não próprio. Ainda é uma parcela grande que vem do mercado, mas a indústria também agiu de forma a fugir um pouco da sazonalidade da oferta e da pressão que o mercado exerce em relação a estes preços”.

HABILITAÇÕES EM MASSA POR PARTE DA CHINA

Em março deste ano, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), anunciou que a China havia habilitado 38 plantas frigoríficas brasileiras para exportação de carnes, a maioria delas, bovina.

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  • Fávaro confirma a habilitação por parte da China de 38 frigoríficos

Felipe Fabbri, analista de mercado da Scot Consultoria, afirma que não acredita que esta habilitação em massa estimule o confinamento em um primeiro momento. “Pode ser que mais na frente venha a estimular, mas o custo vai ter um peso maior, porque o ágio hoje para a China não é o mesmo de anos atrás, e a perspectiva é que isso não venha a influenciar a demanda por parte dos confinadores”.

Para Fernando Costa, sócio-proprietário da Costa Agroconfinamento,pode haver um movimento em regiões onde não havia frigoríficos habilitados a exportar anteriormente para a China, mas por outro lado, essa movimentação acabou habilitando frigoríficos de uma mesma empresa.”Tem local com cinco habilitações, sendo quatro da mesma empresa. Isso faz com que o mercado não mude muito. O que tinha que fazer seria uma diversificação das habilitações”, disse.

CONFINAR HOJE DÁ RETORNO?

Pensando em termos atuais, Felipe Fabbri aponta que, pensando no giro rápido, pensando apenas no confinador, ‘eu vou comprar reposição vou entrar com ela no cocho e comercializar esse bovino dali a 90 a 100 dias como boi gordo já terminado’, o confinamento compensa.

“Hoje, em 2024, o mercado se mostra favorável ao confinador, é um mercado mais interessante. Mas não pelos preços do boi, mas sim pelos preços da reposição e dos custos de produção que caíram. Então, enquanto o boi cedeu 17% a 18% dependendo da praça, o milho caiu de 25% a 30% a depender da praça. E o milho é um dos principais custos com a alimentação dentro do modelo de criação em confinamento. Quando a gente vai para a reposição, a queda para o boi magro gira em torno de 12% a 14%, um pouco menos intensa, mas o boi magro representa 70% do custo de produção. Então o desenho que nós temos hoje é de um mercado em que a conta fecha”.

FONTE: https://www.noticiasagricolas.com.br/